terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O ano 0 e a questão das décadas

O sistema de numeração dos anos não é perfeito.
O tempo é marcado pelas voltas da Terra ao Sol, pelas estações do ano, pelos dias, pelas fases da Lua, pela posição dos astros, fenómenos periódicos que sempre intrigaram filósofos, pensadores e cientistas, mas faltava uma origem do tempo com algum significado popular.
O calendário actual baseia-se no calendário Juliano, criado por Júlio César, esse mesmo, com doze meses e 365 dias, e alguns acertos, que decidiu que o ano 1 (1 dC - depois de Cristo) seria o ano em que nasceu Jesus Cristo, e assim pôs ordem e deu uma referência à contagem do tempo, mas não sendo matemático, não sendo o zero um número 'digno', entendeu que o ano anterior a esse seria 1 aC (antes de Cristo), e não o ano 0.
Para fazer com que os dias e meses batessem certo com os textos bíblicos, e outros, o Papa Gregorio XIII decidiu, no século XV, ouvido os sábios, introduzir um ajuste de 10 dias ao calendário, para o equinócio da Primavera passar a ser à volta de 21 de Março, e para que a Páscoa, que é no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia, depois daquele equinócio, ocorresse normalmente nos primeiros dias de Abril.
Hoje pensa-se que Jesus Cristo terá nascido por volta de 2 aC. e terá sido crucificado em 7 de Abril de 30 dC ou 3 de Abril de 33 dC.
Outra questão é a da contagem das décadas, dos séculos e dos milénios.
Uma década são dez anos consecutivos. A década de 70 começou em 1970 e terminou em 1979, os anos vinte são a década que se iniciou em 1920 e terminou em 1929. Nestes casos, as décadas têm  o algarismo das dezenas constante.
Agora se quisermos contar as décadas desde a primeira (ver figura), a 202ª década dC vai terminar no final de 2020, e daqui decorre uma discrepância entre esta e a outra forma de olhar para as décadas: os anos vinte do actual milénio começam em 2020, mas a 203ª década dC inicia-se um ano depois, em 2021.
Pela minha parte, não tenho problema em que se festejam todas estas décadas...

sábado, 21 de dezembro de 2019

Os algoritmos

Somos governados por algoritmos, desde aqueles que nos recomendam produtos para comprar, livros para ler, filmes para ver, até outros mais sofisticados, de que nem desconfiamos, e que volta e meia nos atrapalham, nos põem à espera, nos deixam sem resposta, nos chateiam, nos telefonam, nos fazem "ofertas", etc, para não falar naqueles que nos tratam da saúde e da vida...
Há-os basicamente de dois tipos, os colaborativos, que se baseiam em similaridades, de clientes ou de produtos, e os baseados em conteúdos, que os tentam agrupar em classes.
Claro que se trata de um jogo complicado, com uma forte componente psicológica, em que a imprevisibilidade dos clientes desempenha um papel complexo, embora não inultrapassável, do ponto de vista estatístico.
Uma versão elaborada destes sistemas, com perfis individuais baseados em dados recolhidos noutros contextos - redes sociais, por exemplo - terá desempenhado papel importante em actos eleitorais recentes, nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Estes algoritmos estão presentes no YouTube, por exemplo, com os seus vídeos ou canais recomendados, e que nos permitem deixar arrastar pelas suas sugestões de uma forma passiva.
Importante será saber o que acontece se começarmos num vídeo, num canal, ou numa pesquisa específica, e nos deixarmos conduzir pelas escolhas do algoritmo, nós, que nos interessamos por um determinado assunto, ou um jovem cujos Pais o deixam a ver um vídeo infantil qualquer, sem saber exactamente a sequência de vídeos que o YouTube irá escolher.
Acabo de fazer uma experiência usando uma das ferramentas da colecção YouTube Data Tools.
Fiz uma pesquisa com os termos Alt + Right, limitada a 100 vídeos relacionados e as relações entre eles, cada um dos quais deu origem a outros vídeos relacionados, num total de 5918 vídeos diferentes, e 116752 relações.
Neste imagem, cada ponto representa um desses 5918 vídeos, agrupados de acordo com o número de relações entre eles
(usei o Gephi, e deixei de fora alguns vídeos muito afastados...).
Os vinte vídeos mais visionados são os da imagem seguinte, em que o grau indica o número de vezes que cada vídeo foi visionado, e se indica também o canal YouTube respectivo
As categorias dos vídeos visionados são diversas, com cerca de 50% a pertencer à categoria News & Politics, como seria de esperar
Voltarei certamente a este tema...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Não temos tempo?

Todos os anos mostro aos meus alunos a versão actualizada do que acontece num minuto de Internet:
Faz-nos pensar que acontecem muitas coisas, demasiadas coisas, dirão alguns, e que cada minuto que paramos a olhar para um acontecimento qualquer faz-nos perder uma infinidade de acontecimentos...
Só que sempre foi assim, sempre aconteceram muitíssimas coisas em simultâneo, com a diferença de que a velocidade de circulação da informação, das notícias, era muito menor.
(eu próprio estou a escrever esta nota ao mesmo tempo que ouço Corbyn a apresentar o seu Labour Manifesto na Sky News, compro dois livros no Book Depository, despacho o meu e-mail, olho para o Facebook, etc)
Temos esta necessidade irresistível de fazer browsing pelas páginas de todos os órgãos de informação e não nos determos num ou dois deles, perdemos o gosto pela informação sequencial, saltamos, gostamos de zapping, dos programas gravados, de ver a 1.5x, de avançar "o que não interessa" para chegarmos mais depressa ao fim da história, não temos paciência para um filme completo, ou para uma peça de teatro, em tempo real.
A não ser que sejam realmente bons, e então até gostamos de repetir, de descobrir novos pormenores, como se estivéssemos a apreciar uma fotografia.
Então, porque estranhamos a fragmentação dos partidos políticos, dos sindicatos, dos movimentos "inorgânicos", dos coletes amarelos, do tsunami democrático, dos parlamentos, quando tudo isto é previsível, num tempo do WhatsApp, das comunicações instantâneas e globais, em grupos abertos e fechados, onde tudo se pode combinar?
Eu acho que há tempo para tudo, para a análise e para a síntese, para debater e para estabelecer consensos, nos sítios certos.
E não gosto de ver o poder político a interferir, a dizer quem são os bons e os maus, qual polígrafo selectivo destinado a convencer os menos preparados - não será o sistema político que precisa de ser reformado?

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Artistas

Reparei hoje que há mais de dois anos que não escrevo aqui... tenho andado por outras paragens...
No entanto, relendo as últimas mensagens, parece que nada mudou.
O governo, continua a espremer tudo o que pode, e assim tentar salvar a pele. Sempre a tratar das consequências, da pobreza, das reprovações, do colapso do SNS, dum estado em que só a autoridade tributária funciona.
As causas, que estão nas deficiências em educação, cultura, civismo, respeito pelos outros, etc, não interessam.
Casa da Música, Porto
A oposição, e a oposição da oposição, andam completamente perdidas, sem propostas motivadoras e agregadoras, à espera de uma solução.
Um desafio imenso, para gerações...