Eu, que em quatro décadas conclui um curso de Engenharia Electrotécnica com uma ou duas aulas sobre transistores dadas por um professor que só sab(er)ia de válvulas, que iniciei o ensino e a aprendizagem de Electrónica do Estado Sólido na Faculdade de Engenharia, que recebi e folheei por essa altura a primeira edição do primeiro catálogo da Intel com o microprocessador de 4 bits Intel 4004, que fui co-autor do primeiro projecto de um computador digital realizado na FEUP, que fui adepto do Z80, que me apaixonei pela digitalização e pelo Processamento Digital de Sinal, que explorei até ao limite a utilização de múltiplos microprocessadores de sinal no processamento de sinais bioeléctricos, que trabalhei com o grande computador de Manchester, em que podia submeter programas ao ritmo de um por dia (!), que colaborei, em Portugal, no desenvolvimento de um equipamento de processamento de sinais electrofisiológicos de topo, que acompanhei todos os desenvolvimentos de microprocessadores Motorola, Intel, AMD, de 4, 8, 16, 32, e 64 bits, que comecei a usar e-mail ainda nos anos 80, com o sistema Eurokom, da Comissão Europeia, que estive no projecto do Centro de CIM do Porto, que enquanto durou formou dezenas de engenheiros de produção e sistemas, que comecei a utilizar a Internet na sua hora zero, com modems a 14.4 kbit/s, e com modems de cabo em casa, e depois ADSL, e agora fibra, que vi os primeiros Macs, o DOS, o Windows, a Google, o Facebook, que trabalhei em dezenas de projectos de cooperação internacionais e nacionais, que descobri o potencial dos sistemas com inteligência distribuída, das redes, dos sistemas complexos, da análise de dados e visualização da informação, até chegar à Social Physics, by Alex Pentland, ao big data, às portas de um novo mundo, respiro fundo e penso.
Passou tudo tão depressa que quase ninguém se apercebeu do que ia acontecendo, dos passos de gigante que iam sendo dados, da lógica das coisas, das implicações na nossa vida do dia a dia, do emprego e no desemprego, da velocidade das transacções, da globalização, do número exponencialmente crescente de intervenientes nos mercados, dos novos fluxos, não de materiais, ou de energia, ou de informação, mas sim de ideias, que se espalham e ganham as pessoas segundo regras e leis que só agora começam a ser estudadas. Mas sempre com a sensação de que tudo passou devagar, que muito mais e melhor poderia ter sido feito no mesmo tempo...
O mundo é diverso, mas hoje está ao nosso alcance como nunca esteve, desde que saibamos mobilizar as nossas competências, a nossa imaginação e a nossa curiosidade. Nunca foi tão fácil.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Depressa e devagar
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1 comentário:
Pois é...e eu posso testemunhar muitas das coisas que fizeste! E quantas não poderias ter feito, não fosse a falta de meios que havia na FEUP! De facto, com os parcos meios que havia na FEUP bem fácil se poderia adivinhar que muito mais depressa se poderia andar...e, não podemos esquecer que em 1974 quase tudo parou, não só pela transformação política, mas pela (simultânea) maior crise (de sempre) do petróleo que se verificou no mundo ocidental (que muitos esqueceram).
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