quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Adeus 2014!

Fico-me com Torga
E prometo voltar em 2015.
Com a esperança de que os sinais que começamos a avistar sejam os de uma nova realidade, menos avessa à cultura e à educação, sem medo dos poderosos, tantas vezes com pés de barro.
Bom Ano para todos!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O logro da tecnologia

O discurso de hoje, aquilo que a maior parte das pessoas pensa e diz, a todos os níveis, esquece que a tecnologia é um produto da mente humana, e deve estar ao seu serviço.
Pelo contrário, as pessoas aparecem como que "escravas" da tecnologia, do seu uso, independentemente da utilidade que lhe atribuam, e desvirtuando completamente a noção de tecnologia como servindo de apoio à sua actividade.
Encontro todos os dias casos deste endeusamento da tecnologia, com consequências e custos gravíssimos, ainda por cima mal compreendidos pelos fautores dos excessos.
As tecnologias educativas serão um dos exemplos que melhor conheço, mas poderíamos falar também das tecnologias médicas, por exemplo.
A confluência de vendedores de produtos tecnologicamente "avançados" com utilizadores com expectativa de melhorar a forma como realizam as as suas tarefas profissionais, e com o dinheiro de terceiros, normalmente dos nossos impostos, produz uma mistura explosiva, de que tanto pode resultar distribuir milhares de quadros interactivos multimédia pelas nossas escolas do ensino básico e secundário, ou computadores pelos nossos tribunais, ou equipamentos que nunca serão utilizados por certos hospitais.


E assim, hoje, não se olha para o doente, prescreve-se uma bateria de exames, não se ensina aos estudantes a vantagem de um suporte visual para comunicar com uma audiência, ensina-se Prezi acefalamente, porque é moda, não se pensa como despertar o pensamento computacional nos nossos miúdos, dá-se-lhes Scratch.
No entanto, a tecnologia é absolutamente indispensável para que possamos deixar de ser um País de escravos dos processos, da produção, da produtividade, para sermos um País da criatividade e da concepção, da valorização dos nossos recursos.
Só que este pequeno clique, esta mudança de mindset, requere que se pense, que se compreenda que as nossas atitudes, as nossas decisões, estão para além de todos os decretos do governo, mas resultam do exemplo, da influência, das redes, da vontade de perceber, e é isso que falta.
A tecnologia vem logo a seguir.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Depressa e devagar

Eu, que em quatro décadas conclui um curso de Engenharia Electrotécnica com uma ou duas aulas sobre transistores dadas por um professor que só sab(er)ia de válvulas, que iniciei o ensino e a aprendizagem de Electrónica do Estado Sólido na Faculdade de Engenharia, que recebi e folheei por essa altura a primeira edição do primeiro catálogo da Intel com o microprocessador de 4 bits Intel 4004, que fui co-autor do primeiro projecto de um computador digital realizado na FEUP, que fui adepto do Z80, que me apaixonei pela digitalização e pelo Processamento Digital de Sinal, que explorei até ao limite a utilização de múltiplos microprocessadores de sinal no processamento de sinais bioeléctricos, que trabalhei com o grande computador de Manchester, em que podia submeter programas ao ritmo de um por dia (!), que colaborei, em Portugal, no desenvolvimento de um equipamento de processamento de sinais electrofisiológicos de topo, que acompanhei todos os desenvolvimentos de microprocessadores Motorola, Intel, AMD, de 4, 8, 16, 32, e 64 bits, que comecei a usar e-mail ainda nos anos 80, com o sistema Eurokom, da Comissão Europeia, que estive no projecto do Centro de CIM do Porto, que enquanto durou formou dezenas de engenheiros de produção e sistemas, que comecei a utilizar a Internet na sua hora zero, com modems a 14.4 kbit/s, e com modems de cabo em casa, e depois ADSL, e agora fibra, que vi os primeiros Macs, o DOS, o Windows, a Google, o Facebook, que trabalhei em dezenas de projectos de cooperação internacionais e nacionais, que descobri o potencial dos sistemas com inteligência distribuída, das redes, dos sistemas complexos, da análise de dados e visualização da informação, até chegar à Social Physics, by Alex Pentland, ao big data, às portas de um novo mundo, respiro fundo e penso.
Passou tudo tão depressa que quase ninguém se apercebeu do que ia acontecendo, dos passos de gigante que iam sendo dados, da lógica das coisas, das implicações na nossa vida do dia a dia, do emprego e no desemprego, da velocidade das transacções, da globalização, do número exponencialmente crescente de intervenientes nos mercados, dos novos fluxos, não de materiais, ou de energia, ou de informação, mas sim de ideias, que se espalham e ganham as pessoas segundo regras e leis que só agora começam a ser estudadas. Mas sempre com a sensação de que tudo passou devagar, que muito mais e melhor poderia ter sido feito no mesmo tempo...


O mundo é diverso, mas hoje está ao nosso alcance como nunca esteve, desde que saibamos mobilizar as nossas competências, a nossa imaginação e a nossa curiosidade. Nunca foi tão fácil.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

O velho e o novo

Durante muitos anos ninguém se interrogou sobre o facto de os automóveis serem todos iguais, e pretos. Era assim. Não se discutia. Até que se começou a discutir, e a pensar, e a automatizar a produção, e a criar um vínculo entre cada automóvel na linha de montagem e o seu futuro dono, de tal modo que hoje nos surpreendemos só de pensar que já não foi assim.
O mesmo com os sapatos, onde havia muito poucos modelos diferentes, porque uma linha de montagem de sapatos teria de produzir sapatos em número suficiente para amortizar cada colecção de cortantes, ou seja, umas boas cenenas de milhares. Até que apareceram as máquinas de corte por jacto de água, e lá se foram os cortantes, e todas essas restrições, podendo os sapatos agora ser produzidos ao gosto de cada cliente, sem grande aumento de custo.
E até no ensino, cada vez mais focado no aprender, no aluno, no "consumidor", e não no professor, no ensinar, no debitar das matérias do currículo nacional de uma forma mecanizada. Embora aqui ainda haja um longo caminho a percorrer até chegarmos à escola sem papéis, sem os velhos manuais, pesados, mal tratados, rabiscados pelos alunos, cheios de erros, a pedir que os substituam por manuais electrónicos, que se actualizam como qualquer aplicação para um tablet, que registam a actividade de cada um, que comparam, que avaliam as actividades propostas, que tratam individualmente cada aluno, de um modo personalizado, e colocam a cada um os desafios mais motivadores.
Na Internet, que passou em meia dúzia de anos dos velhos sítios com conteúdos gerados pelos seus criadores, para os novos espaços públicos onde os conteúdos são gerados pelos utilizadores, como no Facebook, onde cada um tem a sua cronologia e interage com quem quer, num espaço pessoal, seu, e em todas as aplicações de que gostamos.
Na organização do trabalho, em que a ideia de colaborar, de fazer em conjunto, uma coisa indefinida, uns escondidos atrás dos outros, foi substituída pelo conceito de cooperar, em que o objectivo é decomposto em tarefas que são distribuídas pela equipa, sabendo cada membro exactamente o que lhe compete fazer e como o sucesso do todo depende da sua parte.
Até no software, nos sistemas multi-agente, por exemplo.
Mas não é assim na política entre nós. Não nos propõem contratos claros entre eleitores e eleitos. Oferecem-nos listas, tudo a monte, em que não sabemos quem vai fazer o quê, ou representar quem.
E é por isso que, por toda a Europa, os cidadãos preferem propostas claras aos velhos partidos de massas, das listas, do tudo a monte, e é isso que tem de ser mudado. Que vai ser mudado, quer os partidos queiram quer não.
Talvvez construindo sobre os movimentos que aqui e agora vão emergindo, vão propondo caminhos novos.
Primárias abertas nos partidos. Porque não? Círculos uninominais. Quando? Qual é o medo?

domingo, 18 de maio de 2014

Dia 1 do pós-troika: tudo igual?

Não! Não está tudo igual. Está tudo pior. Porque ainda não começamos sequer a pensar como vamos recuperar da destruição da nossa agricultura e indústria tradicionais, em troca de uns milhões que foram parar a alguns bolsos, recuperar dos investimentos faraónicos permitidos pelo dinheiro fácil, e recuperar desta armadilha chamada Euro, destes quase trinta anos trágicos em que sonhamos que tudo seria possível como num milagre.
Entretanto, o mundo mudou e muda todos os dias, transformando-se rapidamente numa economia baseada na robotização, na automatização e no conhecimento, na substituição de postos de trabalho ocupados por pessoas menos qualificadas por máquinas, por soluções globais, que atravessam as fronteiras, sem que quem tem a obrigação de estar atento, os sindicatos em primeiro lugar, avance com soluções que tirem partido deste fenómeno para reduzir as horas ou os dias de trabalho semanal de cada trabalhador, que distribua o trabalho existente por todos os trabalhadores disponíveis, avaliando, remunerando melhor quem trabalha melhor, mas mantendo todos saudavelmente ocupados.
E tempo livre significa lazer, indústrias do lazer, novas actividades que poderão mudar a forma como trabalhamos e como usamos o nosso tempo livre, que terá de ser em formas de convívio entre os concidadãos, que contribuam para a construção de uma nova identidade, baseada nos conceitos fundadores da fraternidade e da soidariedade.
James Altucher aponta estes problemas no seu livro Choose Yourself, de que faz aqui uma breve apresentação

O problema é muito simples: cada um tem de fazer a sua própria escolha, tem de melhorar, tem de ter uma ideia por que lutar, um programa de vida. E o colectivo também. Não acredito que os actuais líderes dos dois maiores partidos sejam capazes de compreender sequer o problema. Basta-lhes salvar os seus lugares na máquina do Estado, por mais pobre que esteja ou seja.

sábado, 3 de maio de 2014

Precisamos de gente que pense

Admiro os "economistas", estes seres oriundos sabe-se lá de onde e que acham que a conta de dividir e a regra 3 simples chegam para entender o funcionamento do mundo, por mais complexo que aos outros pareça.
E se não resulta, obviamente que a culpa é dos outros, daqueles que passaram a consumir menos, ou que passaram a trabalhar menos, ou que perderam o emprego, e nunca do modelo simplificado que consideraram, um daqueles em que só se pode alterar uma variável de cada vez.
Qualquer pessoa sabe que se aumentarem os impostos o rendimento disponível diminui e o consumo também, podendo facilmente as receitas dos impostos diminuir, em vez de aumentar. Os "economistas" não.
Qualquer pessoa sabe que a receita para combater o desemprego não é de certeza aumentar o horário semanal daqueles que ainda têm emprego, mas precisamente o contrário. Os "economistas" não.
Qualquer pessoa sabe que a automatização, a robotização, a desmaterialização da economia, eliminam postos de trabalho com menor exigências de qualificação, e que as pessoas que os perdem só muito dificilmente encontrarão outro emprego na sua vida. Os "economistas", não. Não é com eles.
Qualquer pessoa sabe que deslocalizar a produção em massa de bens para países de mão de obra barata se vira a curto prazo contra os países que esvaziam o seu tecido produtivo. Os "economistas", esses não.
Não precisamos destes "economistas", mesmo que tenham ganho prémios Nobel, não precisamos de tantas opiniões sobre o que devíamos e não devíamos ter feito.
Precisamos de gente que pense pela sua cabeça, que tenha ideias credíveis, que tenha a noção de como as pessoas normais decidem e reagem, e que as mobilize, em nome da melhoria generalizada da qualidade de vida que está ao nosso alcance.
E devo dizer que não me parece muito complicado, para quem viu grandes mudanças como a fixação do salário mínimo nacional, como o fenómeno dos "retornados" ou como a reunificação da Alemanha. Que aconteceram porque ninguém pediu a opinião a nenhum economista... Haja coragem. Haja gente com coragem!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O caos é uma ordem por decifrar

A história, a nossa história, foi e é escrita pelos milhares de milhões de seres humanos que já viveram e vivem no planeta, uns 108 mil milhões segundo algumas estimativas. O que somos, o que fizemos, o que deixamos de fazer, depende das decisões que todos tomamos, de fazer, seguir, concordar, discordar, ignorar, contrariar ou mesmo esquecer. Não há forma de algum de nós alijar a sua responsabilidade neste todo!
Não há um maestro que tudo determine, o maestro somos nós, a nossa tábua de valores, o respeito pela vida, liberdade e bem estar de todos. A nossa força, a nossa garantia de sobrevivência, residem exactamente nesta complexidade, neste conjunto gigantesco de interdependências e de interacções, que nenhum individualmente será capaz de controlar de uma forma continuada. É o que nos ensina a história.
Entretanto, o mundo vai ficando cada vez mais pequeno, estamos a construir um novo espaço público, a Internet, hoje usada por mais de um terço de toda a humanidade, onde a distância não conta, onde a informação circula à velocidade da luz, onde nos relacionamos de um forma completamente nova.
Esta construção é contudo humana, produto da nossa mente, das nossas mentes, e não se impõe por si. Não somos escravos. Não queremos saber o programa que está dentro de cada um de nós. Queremos acreditar que haverá sempre uma ordem por decifrar.
("O caos é uma ordem por decifrar", in José Saramago, O Homem Duplicado)

sábado, 5 de abril de 2014

E se as pessoas fossem remuneradas pela sua disponibilidade?

Aquilo que me parece muito errado por exemplo para a remuneração das PPP das ex-SCUT - de acordo com a disponibilidade das AE e não do tráfego efectivamente verificado, desde que não exceda um determinado valor - e que foi uma porta para contratos ruinosos, assinados por políticos que sabiam que estavam a favorecer interesses privados, já me parece bem para as pessoas.
Para simplificar, imaginemos uma profissão, sei lá, empregado de mesa, em que há um determinado nível de desemprego, que origina uma fila de espera para a obtenção de emprego, constituída por todos os desempregados dessa profissão, numa determinada área geográfica.
Estes desempregados são um pouco fruto do acaso, e não do seu demérito, estão disponíveis para trabalhar tal como os seus colegas empregados, poderão até ser mais competentes, e não se percebe que seja penalizados por algo que não lhes diz respeito.
A pergunta que coloco é pois, porque não são remunerados por essa disponibilidade, por um valor equivalente?
fonte: oinsurgente.org 
Imaginemos um sector em que 15% da mão de obra disponível está desempregada.
Todos estes desempregados teriam trabalho se cada um cedesse 15% do que tem, eventualmente, como eu defendo, sem prejuízo, uma vez que os custos seriam coberto pelas economias no subsídio de desemprego e em toda a máquina burocrática associada.
Bastaria, por exemplo, rodar as pessoas de tal modo que o trabalho fosse distribuído por todos de uma forma equitativa, obrigando cada um, por exemplo ao fim de 11 meses de trabalho, a dar o lugar ao primeiro da lista de espera e a tomar o lugar do último dessa lista, sendo certo que a sua vez chegaria dentro de dois ou três meses, em função do nível de desemprego no sector.
Entretanto, cada trabalhador seria sujeito a uma avaliação no fim de cada período de trabalho, que lhe permitiria ver ajustada a sua remuneração neste mercado virtual, para cima ou para baixo, de acordo com a sua competência.
Não havendo nada mais compensador para quem quer trabalhar que saber que a sua vez chegará, num sistema equitativo e transparente, em que, no fundo, o desemprego acaba por ser absorvido por umas férias mais longas de cada um, parece-me que este sistema poderia desbloquear muitos fantasmas de emprego e de desemprego, com vantagens evidentes, criando novos factores competitivos, abrindo portas a um melhor usufruto do lazer, e expurgando a sociedade desta noção mentirosa de desempregado, que não tem emprego, que não serve para nada.
Excluídos ficariam automaticamente os incapazes, merecedores do nosso apoio, e aqueles que realmente não querem trabalhar, que acham que são os outros que os devem sustentar, e para os quais um apoio mínimo será talvez de mais.
Não estará na altura de mudarmos de paradigma?

terça-feira, 1 de abril de 2014

Deplorável!

Será que um dia aprenderemos a depender apenas do nosso esforço, sem andar atrás de miragens, da Índia, de África, do Brasil, da Europa, do Euro, da reestruturação?
Será que um dia vamos tomar conta do nosso destino, pensar, encontrar um lugar, fazer?
Será que um dia vamos olhar a sério para nós próprios, para o mal que fazemos a nós próprios, na educação, no património, na justiça, na saúde?
Será que um dia nos livramos dos que se governam, dos que se especializaram em viver à custa dos nossos impostos, dos que singram impunemente, à nossa frente, sendo mais depressa aplaudidos que punidos?
Será que um dia vamos perceber que não há salvadores, não há receitas milagrosas, não há fórmulas para o crescimento económico?
Será que um dia vamos perceber que o mundo mudou, que a economia não é comandada pela produção, que estamos em pleno século XXI, numa sociedade global, cada vez com menos fronteiras, cada vez mais aberta?
Será que um dia nos libertaremos dos estigmas do passado, das contradições entre mais automação e mais emprego, da ideia de um Estado omnipresente e omnipotente?
Receio bem que não, que vamos continuar a preferir não mexer, não mudar, e esperar, que o pior não seja muito pior, sem tocar em nada de essencial, a começar pelo sistema político, por este exército de políticos incompetentes, que nada faz, que nada muda, que não sabe, que não sabe que não sabe.
E há tanto a fazer, há tanto que se pode fazer já, que é preciso fazer já, que não pode esperar nem mais um minuto!