domingo, 24 de novembro de 2013

Prova dos nove

Na minha opinião, não há profissão de maior responsabilidade que a de professor do ensino básico ou secundário.
Os jovens crescem e aprendem com os Pais e a família, com a sociedade em que vivem e com os seus professores e colegas, na Escola. Os jovens, todos os jovens, encontram um grande número de professores ao longo dos doze anos de escolaridade obrigatória, que serão, para o bem e para o mal, exemplos de vida que os marcarão durante muitos e muitos anos.
Os professores serão, ou deveriam ser, os mais preparados para ajudar os alunos a aprender, para além das matérias constantes dos currículos obrigatórios, a ser cidadão, a ser capaz de pensar e de ter opinião própria, a perceber como se organiza e cria o trabalho, como funciona a sociedade em geral, como se processa a sua evolução.
Marc Prensky, o homem que propôs o conceito de nativos digitais, dizia há bem pouco tempo no seu Twitter que "os professores não ensinam as matérias, ensinam os alunos"! Inteiramente de acordo. Alunos que convivem com a sociedade global de uma forma que a maior parte dos professores não compreende, e que muitos rejeitam, mas que é a realidade.
Se olharmos para a nossa história recente, reparamos que a nossa Escola, pesem embora os Magalhães, os quadros interactivos, os planos tecnológicos, não foi capaz de acompanhar a evolução social, o que faz com que muitos alunos rejeitem a Escola como espaço de convivência, de alegria, de busca de oportunidades.
As tecnologias, que muitos usam simplesmente para fazer as mesmas coisas do passado de uma forma diferente, e mais complicada, e não para fazer coisas novas, que sem as tecnologias seriam impossíveis, nunca foram vistas de uma forma transversal, e acabaram por remeter os professores de Tecnologias de Informação e Comunicação para um canto.
Michael Gove, Ministro da Educação do Reino Unido, fez em 11 de Janeiro de 2012 um discurso notável, que deveria ser leitura obrigatória para todos os educadores, e que se foca especificamente nesta questão. Como ele diz a determinada altura, "imagine the dramatic change which could be possible in just a few years, once we remove the roadblock of the existing ICT curriculum. Instead of children bored out of their minds being taught how to use Word and Excel by bored teachers, we could have 11 year-olds able to write simple 2D computer animations using an MIT tool called Scratch. By 16, they could have an understanding of formal logic previously covered only in University courses and be writing their own Apps for smartphones".
O currículo de TIC como factor de bloqueio! Pois é! E basta olhar para a história do nosso grupo 550 para percebermos que assim é! TIC deveria tratar de informação, de processamento de informação, de abstracção, de raciocínio abstracto, de despertar nos jovens o gosto por fazer coisas mais difíceis, por ir para além dos limites.
Infelizmente há professores que não estão à altura destes desafios. E daí, uma simples prova de avaliação de conhecimentos e capacidades que é um teste elementar da capacidade de raciocínio de cada um que quer ser professor assusta tanto.
E depois admiramo-nos de 435 000 jovens que nem estudam nem trabalham. É que para trabalhar é preciso trabalho, e para haver trabalho tem de haver empresas competitivas, e para haver empresas competitivas tem de haver jovens que sabem o que querem, e para isso é preciso bons professores...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O pecado original

Acho curioso que ninguém questione a taxa de conversão utilizada quando trocamos os nossos escudos por euros, quando me parece mais ou menos evidente que utilizamos uma taxa de conversão muito errada, e que está na origem de muitos dos problemas que hoje enfrentamos.
A cotação de 200.482 escudos por euro significou por um lado que os rendimentos e as economias de cada um foram transformadas em euros àquela taxa e que os preços foram convertidos em euros à mesma taxa, mas tudo isto com um efeito que, a meu ver, e já aqui o escrevi váras vezes, foi catastrófico, pelo simples facto de o euro ser uma moeda europeia e de os nossos preços em euros terem de competir com os preços em euros dos mesmos produtos noutros países, nomeadamente em Espanha.
Todos nos lembramos como os nossos produtos tradicionais, a carne, o leite, os cereais, ficaram automaticamente fora do mercado, levando-nos a fechar as nossas unidades de produção e a importar dos nossos vizinhos a um preço mais barato!
Se tivessemos adoptado uma taxa de conversão de 250 escudos por euro, por exemplo, tudo funcionaria na mesma, em valores relativos, só que os nossos preços em euros ficariam 20% mais baratos, podendo nós passar a a exportar leite, e outros produtos, em vez de os importar, de Espanha e de França, beneficiando as grandes cadeias de distribuição.
Tuda na mesma, não! Os capitais, os depósitos, também seriam reduzidos de 20%, para desgosto de alguns... e dos nossos vizinhos, também, que deixariam de contar com estes novos ricos que se começaram a endividar para sobreviver, e que assim continuaram.
O chamado ajustamento, no fundo a reposição do valor da nossa moeda antiga, mais de dez anos depois, é agora muito doloroso, e possivelmente inglório, e nunca reproduzirá o crescimento harmonioso que um ponto de partida diferente teria permitido.
Porque não foi assim?
Basta ver quem negociou a adesão e quem beneficiou com os erros cometidos, para o percebermos.