terça-feira, 6 de outubro de 2009

O autocarro 102

Estou em Bucareste porque fui convidado para avaliar projectos para a ANCS - Autoritatea Nationala pentru Cercetare Stiintifica.
Em Bucareste, estou pela terceira vez, e a avaliar projectos, pela segunda.
Na primeira vez, tinha sido convidado pela UEFISCSU - Unitatea Executiva pentru Finantarea Invatamantului Superior si a Cercetarii Stiintifice Universitare.
Bucareste é uma cidade extraordinária, de que se vai gostando a pouco e pouco. Começa por ser medonha, enorme, confusa, e acaba sendo excitante, monumental, com uma vida própria surpreendente, dia e noie, de segunda a domingo.
Cheguei no domingo à noite, e logo reparei que todos os restaurantes bons estavam a abarrotar. Não consegui uma mesa no Caru' cu bere... nem nos outros que procurei. Acabei por ir ao simpático City Grill, no centro histórico. Jantei por 23 lei, menos de 6 euros, crepe de chocolate incluído...

Do aeroporto para o Novotel Bucharest City Centre, onde estou, usei o autocarro 783, em que um bilhete de ida e volta custa 7 lei, menos de 2 euros, e sai na Universitate, bem perto do hotel. Recuso-me a usar taxis, nomeadamente aqui, em que o preço é variável, embora esteja (quando está) anunciado na porta. Taxis sem preço afixado não são recomendados em nenhum caso. E a propósito, o brunch de domingo no Novotel custa 170 lei por pessoa (42 euros). No Hilton, aqui ao lado, 165.

A aventura começou com o transporte para o local da avaliação no dia seguinte. Ao contrário do que aconteceu na minha primeira avaliação, em que usamos as instalações da UEFISCSU, bem no centro, a ANCS resolveu instalar os avaliadores no ICEMENERG,

From em Bucareste, para avaliar projectos da ANCS

que fica bem longe do centro, mesmo ao lado de uma das três centrais térmicas que alimentam esta cidade de muitos milhões de habitantes.

From em Bucareste, para avaliar projectos da ANCS

Simpaticamente, descobriram um hotel ainda herdado do anterior regime e bem perto do ICEMENERG, o RIN Grand Hotel, e convidaram toda a gente a ficar lá, a um preço convidativo, menos de metade do que estou a pagar no Novotel, e com um autocarro para levar todos os avaliadores às 8:30 da manhã e trazê-los de volta às 18:00.

Se há coisa que eu destesto, são estes hotéis isolados de tudo. Felizmente, já tinha reservado o Novotel e não segui o conselho. Fiquei em troca com o problema de estar às 8:30 no RIN ou no ICEMENERG.

Comecei por perguntar ao ANCS, que me disse que a única maneira de lá chegar era de táxi! Achei estranho. Perguntei à Claudia (que é romena) que me disse que não estava a ver nenhuma solução melhor. A Claudia perguntou ao Pai dela, que vive em Bucareste, que me deu o mesmo conselho, taxi... Parecia um complô.

Entretanto, noto que num ofício sobre esta logística toda era dito que quem não estivesse às 8:30 no átrio do RIN teria de ir no autocarro 102, três paragens. Fez-se-me luz! Abri o mapa gigante que a Claudia me tinha oferecido há uns tempos, e reparei que numa estação do metro próxima, Aparatorii Patriei, também passava o autocarro 102! Eureka! Bastava ir na linha 2 do metro da Universitate até Aparatorii Patriei, 6 estações, e depois apanhar o autocarro 102 até ao hotel, aí umas 4 paragens.

Como sabia que o custo das viagens é o mesmo no metro, nos autocarros, nos trólei-carros e nos tramways, admiti que a minha carta de 10 bilhetes servisse. Saí do hotel às 7:45, e às 8:05 estava em Aparatorii Patriei. Olho para o lado e lá vinha o 102. Entrei, tendo validar o bilhete, e descubro que as máquinas são incompatíveis! Era preciso um bilhete diferente!... Bem. Ninguém falava senão romeno, mas uma senhora oferece-me um bilhete e assim se resolve a situação. Perguntei-lhe quanto custava, ela não queria aceitar, mas outra lá a convence e ela aceita o meu leu (um leu, vários lei...). Chego ao hotel às 8:20, bem a horas.

Entretanto, começam a perguntar-me como cheguei ao hotel, e eu falo no autocarro 102. O que eu fui falar!... A linha 102 é perigosíssima, garantia de assalto no mínimo, aquela genta tranquila que me ajudou, afinal não era, e portanto não podia andar mais alí. Ponto. Como lhes disse que tinha aversão a táxis a desfazer-se, sem ar condicionado, cheios de fumo, houve reunião dos responsáveis, e decidiram levar-me a outra estação do metro, mais segura, para eu seguir a partir daí. Solução bem pior, pois exigia mudança de comboio na Piata Unirii.

Claro que hoje de manhã usei o mesmo caminho, já equipado de um bilhete adequado. Correu tudo bem, e às 8:15 lá estava no hotel RIN para apanhar o autocarro dos avaliadores. Ainda não perceberam porque não fui assaltado!...

E de tarde, vim pelo mesmo caminho, claro!

(depois conto a história do almoço de hoje)