quarta-feira, 3 de abril de 2024

Amsterdam

Em 1972, era assistente eventual na FEUP, e fui destacado para acompanhar os alunos finalistas de Engenharia Electrotécnica na sua viagem de fim de curso, numa rota que incluía Inglaterra, Países Baixos (na altura, Holanda) e Bélgica.
O início da viagem coincidiu com uma reunião do chamado Grupo Português de Telecomunicações, na JNICT, que na altura secretariei, e a Faculdade concordou em pagar a minha viagem de avião até Londres, para me juntar ao grupo.
Curiosamente, a agência de viagens disse-me que era mais barato fazer a viagem Porto-Amsterdam com escala em Londres, e assim fiz.
Foto retirada da página do turismo dos Países Baixos
A minha bagagem seguiu no autocarro dos alunos, eu dei as minhas voltas e a meio da tarde fui até Heathrow, comprei o tradicional álcool na Free Shop, e apanhei o avião. Destino, Hotel Museum.
Em Schiphol, apresentei-me no controlo de passaportes, e o polícia de serviço pediu-me para lhe mostrar o bilhete de regresso.
Uau! Não tinha. E contei-lhe os factos. Um português, em 1972, sem bagagem, sem bilhete de regresso, a quer entrar na Holanda, com uma história de que ele não acreditou nem numa palavra...
Atendeu o resto da fila, e depois pediu-me que o acompanhasse ao gabinete.
Lá, expliquei mais uma vezes a minha situação, e ao fim de algumas tentativas consegui convencer um dos presentes a telefonar para o Hotel Museum, e confirmar as minhas palavras.
Alívio. O Hotel confirmou que estava à minha espera, e que até já lá estava o grupo.
Um dos polícias levou-me até ao transporte público, explicou-me a melhor maneira de chegar ao hotel, e despedimo-nos com um sorriso.
A triste imagem dos jovens portugueses, a tentar de todas as formas fugir de um regime que já se tornara insuportável. A minha qualidade de universitário tinha-me permitido pedir o adiamento da incorporação no serviço militar para o ano em que completasse 30 anos de idade, mas isso são outras histórias.