domingo, 21 de junho de 2009

A perenidade do imaterial

Na 4ª CISTI - Conferência Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação, o meu amigo António Dias de Figueiredo falou da Geração 2.0 e os Novos Saberes.
No diálogo que se gerou fez-se muita luz sobre a questão da literacia digital, e deixo aqui uma visão sobre esta questão resultante em parte desse diálogo.

Normalmente, entende-se por literacia a capacidade de um indivíduo produzir, compreender e usar informação escrita em material impresso, saberes considerados indispensáveis ao seu desenvolvimento pessoal e participação social. De acordo.
E sabe-se que ao longo dos tempos o suporte da informação escrita tem evoluído de uma forma dramática, desde a pedra, a madeira, o papiro e o pergaminho, ao papel e aos suportes digitais.

A grande (r) evolução introduzida pelos suportes digitais, pela desmaterialização da informação, pela existência da internet, pelo acesso facilitado da casa de cada um ou do seu terminal móvel aos documentos digitais alojados em servidores em qualquer parte do mundo, tudo mudou.
E mudou no sentido mais inesperado, não facilitando a nossa vida, mas antes criando a necessidade de novos saberes que tardamos em adquirir.

No tempo em que escrevíamos em papel, ou no nosso próprio computador pessoal, estava nas nossas mãos eliminar, difundir, reproduzir essa informação. Quantas notas tem cada um de nós em casa que nunca publicou? Muitas, claro. Alguém as conhece? Muito provavelmente não. E podem ser utilizadas nomeadamente contra nós? Não.

E hoje? Imagine-se este post. Depois de publicado, ficará guardado num servidor que eu não faço ideia onde fica, será copiado por quem o quiser, e se eu quiser alterar o seu conteúdo, ou mesmo apagá-lo, poderei eventualmente fazê-lo relativamente ao documento alojado nesse servidor. E relativamente a essas cópias? Não. Impossível.

Deixamos um rasto na internet. Um rasto muito complexo, que as nossas interacções criam, que os utilizadores da internet ampliam, e que os motores de busca registam e muito dificilmente esquecem. Uma simples pesquisa sobre o que o Google saberá de nós próprios certamente nos deixará assustados...

E se pensarmos que dentro de pouco tempo, se não já hoje, o nosso perfil de utilização da internet, se temos ou não um blog, como usamos a nossa conta no Facebook ou no Twitter, valerá mais do que o nosso próprio CV, é fácil vermos qual é o problema. Estamos a mover-nos no desconhecido, a escrever em suportes que não conhecemos, para leitores que não imaginamos, que utilizarão esses nossos escritos para fins que não antevimos.

São estes os novos saberes. Hoje, cada interacção, cada movimento, cada preferência, cada gesto, ficam registados indelevelmente num suporte digital qualquer, que escapa completamente ao nosso controlo. Não sabemos como proceder, e precisamos de saber.

E o certo é que o que estamos a fazer hoje, o nosso comentário, vai ficar indefinidamente ao dispor de toda a comunidade, independentemente da nossa vontade!

A literacia digital é definitivamente muito complexa.

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