Razões profissionais têm-me levado a conhecer com alguma profundidade o estado do nosso ensino básico e secundário, onde, a par de escolas e professores extraordinários, tenho encontrado situações difíceis, daquelas que me fazem pensar que ainda estamos muito longe de termos todas as escolas ao serviço dos jovens e viradas para o futuro.
O sistema de ensino, ao nível dos mais jovens, assenta na cooperação de três pilares, a escola, a casa e a sociedade, que todos sabemos estão em crise profunda.
A casa é o dormitório, o sítio de todas as dificuldades, da falta de tempo, da falta de dinheiro, da falta de disponibilidade para permitir ao jovem realizar em sossego os trabalhos para casa que lhe foram propostos, sob a supervisão dos pais, naturalmente, e depois brincar, crescer, de forma saudável.
A sociedade, a TV, as notícias, são os heróis de pés de barro, de um dia, capas de todos os jornais e revistas, o elogio dos comportamentos mais desviantes, a inexistência de canais informativos destinados a ajudar os mais interessados, jovens ou adultos, a encontrar os caminhos para uma vida positiva.
A escola fica assim com a missão redobrada de ajudar os nossos jovens a crescer, a descobrir a realidade, a aprender a pensar, a ser capaz de analisar e decidir, antes de executar, em todas as situações.
Este ciclo, analisar - decidir - executar, deve ser treinado em todos os momentos, seja no caso mais simples de um jogo de futebol, seja na resolução do problema mais complexo.
Fico assim muito, muito descontente, quando vejo um professor entregar aos alunos da sua turma uma ficha de trabalho que não é mais do que um conjunto de tarefas elementares, caídas sabe-se lá de onde, e que os alunos devem executar acefalamente, sem terem lido um enunciado rigoroso, sem terem tido uma pequena discussão das alternativas, sem a participação da turma, sem dar aos alunos a oportunidade de ter a alegria de descobrir a solução e aprender.
Esta pouca crença na capacidade dos nossos jovens se interessarem e aprenderem, que deriva mais da incompetência de muitos professores e da sua incapacidade de dialogar com os jovens, de lhes propor desafios interessantes, de discutir soluções, é a doença mais séria do nosso sistema de ensino, aquela que deve ser tratada com toda a urgência, e custe o que custar.
Não há nada, não há emprego, não há interesses, que justifiquem destruir mais uma geração, limitada por professores e gestores que não sabem e que não sabem que não sabem.
Os novos docentes que estão a sair das universidades, com o grau de mestre, com provas dadas nas matérias da área da docência, com uma formação sólida em didáctica, com prática de investigação científica, estão preparados para enfrentar estes novos desafios de um mundo em mudança.
Só é preciso que tenham a sua oportunidade de provar que estão à altura desses desafios.
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