segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A formiga no carreiro

Todos já vimos as formigas no carreiro.
As formigas desenvolveram um sistema de orientação que lhes permite colectivamente encontrar o caminho para uma zona onde haja alimentação e ordeiramente proceder ao seu armazenamento. Apenas com base nas feromonas que libertam quando encontram alimentos e que se evaporam ao fim de algum tempo, as formigas comunicam umas com as outras e acabam todas alinhadas no caminho óptimo, contornando obstáculos da forma mais inteligente.



Este sistema de comunicação mediada por feromonas deu origem a algoritmos de optimização muito eficientes não só na descoberta de caminhos óptimos como também noutras áreas como escalonamento de acções ou horários de aulas.
Mas curiosamente este sistema não responde a mudanças. Se um dos obstáculos for retirado, as formigas continuam a contorná-lo como se lá continuasse...
Só há uma maneira de obrigar as formigas a encontrar o caminho melhor: desorientá-las, através da introdução de um obstáculo inesperado, que é retirado de seguida. Perante a desorientação, as formigas fazem outra vez todo o trabalho e rapidamente encontram o caminho que já lá estava mas que lhes escapava.
O mesmo sucede com as sociedades, que precisam de um abanão de vez em quando para fugirem da rotina e descobrirem as alternativas que sempre existem.
Ou não será?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Mau Estado

O Francisco Jaime Quesado escreve hoje no Público sobre os Cinco desafios para o futuro governo. Não concordo nada com a sua visão estratégica.
O que é essencial é que as pessoas entendam como funciona o mundo hoje, e que assumam os seus próprios projectos, e que o estado ajude aqueles que perderam os seus empregos que julgavam para a vida e que nunca mais recuperarão.
O que precisamos é de acelerar a transição de uma economia da ignorância que ainda vivemos para uma economia do conhecimento, que já tivemos há uns 600 anos atrás e que perdemos pelo excesso de (mau) estado, por uma máquina clientelar gigantesca, em grandes e pequenos negócios, dos ministérios às juntas de freguesia. Todos os dias tomamos conhecimento de novos casos.
O que não podemos é continuar a sustentar um mau estado que se desculpa sistematicamente com a crise económica, sem procurar as verdadeiras causas do nosso atraso e desespero.
Um exemplo gritante é o das Universidades, e aí estou totalmente de acordo com o Reitor da Universidade do Porto, quando nos tentou dizer que é preciso procurar noutro sítio as razões para o crescente abandono escolar no ensino superior. 


Há outras razões, tão ou mais importantes, como a ausência de motivação, o sentido de inutilidade, a frustração, a noção de que se escolheu um curso que conduz ao desemprego. 
Os jovens merecem melhores cursos, cursos que ofereçam perspectivas de trabalho num mundo em mudança. Deixem as Universidades adequar as suas ofertas a essas necessidades percebidas, em vez de as espartilhar em numerus clausus enganadores.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Non Profit

Uma sociedade que se desenvolve em função do lucro, em função da existência de seres humanos que acham que podem contratar (escravizar?) outros seres humanos com o objectivo de realizar lucro, de acumular riqueza, não é uma sociedade em que apeteça viver.
No entanto, por mais progresso, desenvolvimento, automação, robotização, eliminação de postos de trabalho degradantes, ainda não não fomos capazes de chegar a uma nova redistribuição do trabalho que permita a todos trabalhar menos e viver melhor.
Cada posto de trabalho eliminado tem um custo social duplo, pois o sistema social passa a ter mais despesas (desemprego, formação, etc,) e menos receitas (taxas sociais), e só beneficia o empregador.


Dizia o grande Agostinho da Silva que “O trabalho não é virtude, nem honra; antes veria nele necessidade e condenação; é, como se sabe, consequência do pecado original.” Será mesmo? Não seremos capazes de romper com esta situação?
Hoje, temos a experiência, os exemplos e as ferramentas que nos permitem augurar que sim.
Há uma nova mentalidade entre os jovens, disponibilidade, espírito non profit, vontade de fazer bem não pelo lucro que daí pode advir mas porque tal contribui para uma vida melhor.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Desurbanizar

No passado sábado, foi dar uma volta por uma zona da cidade que conheço muito bem, e onde passei toda a minha juventude.
A casa em que nasci já não existe. Nem a rua!


Esta foto foi tirada na rua de Artur de Paiva. Ali ao fundo passa a actualmente inútil rua de Costa Cabral, e no seu prolongamento estava a rua em que nasci, na casa nº 17. Tudo desapareceu. 
Dando a volta ao prédio plantado na antiga rua, chega-se ao terceiro mundo.


Esta é a vista das traseiras. Deprimente.
Continuando a volta, um sinal que aviva a memória. Um prédio antigo que ainda lá está! No meio do esquecimento, mas está, na confluência da travessa das Barrocas com a rua de Júlio de Matos.


Confirma-se que toda a zona oriental da cidade foi percorrida por um vendaval de destruição e de betão pronto de que vai demorar muito tempo a recuperar. Não me reconheço. Não sei movimentar-me. Tento chegar à estação de Contumil, e daí à avenida de Cartes, mas perco-me. São rotundas sobre rotundas. É o terceiro mundo.