De um modo simples, o Estado só vai ter a sua vida regularizada quando
ano a ano as receitas correntes cobrirem as despesas correntes mais os
encargos da dívida mais uma parcela destinada à sua amortização.
Incluindo-se aqui a Administração Central, a Segurança Social e todas as
entidades que se sentam à mesa do orçamento, empresas públicas,
autarquias, etc.
A Direcção-Geral do Orçamento deveria dar-nos todos os números da nossa crise de um modo simples, que cada um entenda, como entende as finanças de sua casa! Ou pelo menos os números que sabe... pois pode haver outros...
Só que não dá, e acho que a ideia é mesmo essa. Pois os números são assustadores!
Acabei por ir ao Eurostat, e lá descobri uma primeira pista: Provision of deficit and debt data for 2010 - first notification. Dá-nos uma ideia global da desgraça: PIB à volta de 173 mil milhões de Euros, despesa global do Estado à volta de 87.4 mil milhões de Euros, receita global do Estado à volta de 71.6 mil milhões de Euros, défice de 15.8 mil milhões de Euros, 9.1% do PIB, défice acumulado de 161 mil milhões de Euros, 93% do PIB. O Estado gasta mais de metade do nosso PIB anual, e mesmo assim endivida-se de uma forma brutal! Nem para as despesas correntes o Estado tem dinheiro, quanto mais para pagar os encargos da dívida, que serão uns 8 mil milhões de Euros, e muito menos para começar a amortizá-la!
Mesmo que o mundo nos perdoasse a divida, não conseguiríamos viver! Ainda precisaríamos de uns outros 8 mil milhões de Euros por ano!
Como foi possível chegarmos aqui?! Duros tempos nos esperam...
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
sábado, 10 de setembro de 2011
"Mais fácil calcular a posição dos astros no universo que o comportamento da mente humana"
Desabafo de Sir Isaac Newton, depois de ter perdido grande parte da sua fortuna em títulos da Companhia dos Mares do Sul.
Sim, o mesmo Isaac Newton, físico, matemático, astrónomo, filósofo, alquimista, teólogo, que estabeleceu as bases da mecânica clássica, e portanto a relação entre a força e o movimento, e a lei da gravitação universal, que explica o movimento dos astros no universo, não foi capaz de descobrir as leis que regem o comportamento da mente humana!
Nem ele nem ninguém, nem mesmo Barabasi, que hoje se interroga sobre a previsibilidade das nossas decisões.
A Companhia dos Mares do Sul, foi fundada em 1711, para financiar a participação da Inglaterra na guerra da sucessão de Espanha, que durou entre 1701 e 1714. A ideia era muito simples: um grupo de investidores reuniu 10 milhões de libras, que emprestou ao governo, a uma taxa de juro perpétua de aproximadamente 6% ao ano (mais rigorosamente, 576 534 libras por ano), em troca do monopólio da rota marítima para a América do Sul, se e quando a guerra terminasse com um resultado favorável à Inglaterra, como realmente aconteceu. Aliás, foi assim que a Espanha perdeu também Gibraltar para os ingleses, por exemplo.
Em 1917, a Companhia emprestou mais 2 milhões de libras, e em 1919 propôs-se emprestar ao cada vez mais endividado governo inglês 30 milhões de libras, a uma taxa de juro perpétua de 5% até 1927 e 4% daí em diante. Este negócio concretizou-se em 1920, com as acções da Companhia dos Mares do Sul a subir em poucos meses de 130 libras até às 1000 libras, e a cair abruptamente logo no final do ano para cerca de 100 libras, com muitos investidores a perder grande parte do seu dinheiro no entretanto.
Entre eles, Sir Isaac Newton.
Sim, o mesmo Isaac Newton, físico, matemático, astrónomo, filósofo, alquimista, teólogo, que estabeleceu as bases da mecânica clássica, e portanto a relação entre a força e o movimento, e a lei da gravitação universal, que explica o movimento dos astros no universo, não foi capaz de descobrir as leis que regem o comportamento da mente humana!
Nem ele nem ninguém, nem mesmo Barabasi, que hoje se interroga sobre a previsibilidade das nossas decisões.
A Companhia dos Mares do Sul, foi fundada em 1711, para financiar a participação da Inglaterra na guerra da sucessão de Espanha, que durou entre 1701 e 1714. A ideia era muito simples: um grupo de investidores reuniu 10 milhões de libras, que emprestou ao governo, a uma taxa de juro perpétua de aproximadamente 6% ao ano (mais rigorosamente, 576 534 libras por ano), em troca do monopólio da rota marítima para a América do Sul, se e quando a guerra terminasse com um resultado favorável à Inglaterra, como realmente aconteceu. Aliás, foi assim que a Espanha perdeu também Gibraltar para os ingleses, por exemplo.
Em 1917, a Companhia emprestou mais 2 milhões de libras, e em 1919 propôs-se emprestar ao cada vez mais endividado governo inglês 30 milhões de libras, a uma taxa de juro perpétua de 5% até 1927 e 4% daí em diante. Este negócio concretizou-se em 1920, com as acções da Companhia dos Mares do Sul a subir em poucos meses de 130 libras até às 1000 libras, e a cair abruptamente logo no final do ano para cerca de 100 libras, com muitos investidores a perder grande parte do seu dinheiro no entretanto.
Entre eles, Sir Isaac Newton.
sábado, 3 de setembro de 2011
High-Frequency Trading
Um produto que tem um preço de venda num mercado inferior ao preço de compra noutro é uma mina de ouro, enquanto durar. Basta comprar no primeiro e vender no segundo.
Claro que a operação tem de ser feita com todo o cuidado para que os mercados não desconfiem, pois corre-se o risco de alterações de preços complicarem estes planos. Mas não para todos.
Há quem consiga comprar barato e vender caro com garantia absoluta de que não corre qualquer risco!
Em mercados altamente sofisticados como as bolsas de valores, e desde que se conheça exactamente os ciclos de actualização dos preços (estamos a falar de fracções de segundo), é possível descobrir janelas de tempo em que é absolutamente seguro, por exemplo, comprar moeda num mercado a um preço e vendê-la imediatamente a seguir noutro, a um preço superior. Há quem opere neste segmento, é legal, e já ocorreram sérios problemas relacionados com estas transacções.
Chama-se a isto High-Frequency Trading (vale a pena ler este artigo). Num pequeno artigo que li recentemente na IEEE Computer intitulado "Some Users Find the Speed of Light Too Slow for Their Networks" refere-se por exemplo que poupar 3 ms nas comunicações entre Nova Iorque e Chicago é vantajoso para as empresas que operam nestes negócios.
Claro que estes negócios são completamente irreais e traduzem-se no desvio de milhões para alguns bolsos sem qualquer correspondencia com trabalho ou risco. Mas apesar dos problemas que regularmente ocorrem, como o "Flash Crash" de Maio 2010, pouco se faz para os impedir.
E aqui estamos nós, a pagar para pôr em ordem as nossas contas, com grande reverência pelos mercados, em vez de terminar de uma vez por todas com estas e outras habilidades que não criam valor, mas que criam grandes problemas aos que acreditam num mundo em que as pessoas sabem viver em sociedade.
Claro que a operação tem de ser feita com todo o cuidado para que os mercados não desconfiem, pois corre-se o risco de alterações de preços complicarem estes planos. Mas não para todos.
Há quem consiga comprar barato e vender caro com garantia absoluta de que não corre qualquer risco!
Em mercados altamente sofisticados como as bolsas de valores, e desde que se conheça exactamente os ciclos de actualização dos preços (estamos a falar de fracções de segundo), é possível descobrir janelas de tempo em que é absolutamente seguro, por exemplo, comprar moeda num mercado a um preço e vendê-la imediatamente a seguir noutro, a um preço superior. Há quem opere neste segmento, é legal, e já ocorreram sérios problemas relacionados com estas transacções.
Chama-se a isto High-Frequency Trading (vale a pena ler este artigo). Num pequeno artigo que li recentemente na IEEE Computer intitulado "Some Users Find the Speed of Light Too Slow for Their Networks" refere-se por exemplo que poupar 3 ms nas comunicações entre Nova Iorque e Chicago é vantajoso para as empresas que operam nestes negócios.
Claro que estes negócios são completamente irreais e traduzem-se no desvio de milhões para alguns bolsos sem qualquer correspondencia com trabalho ou risco. Mas apesar dos problemas que regularmente ocorrem, como o "Flash Crash" de Maio 2010, pouco se faz para os impedir.
E aqui estamos nós, a pagar para pôr em ordem as nossas contas, com grande reverência pelos mercados, em vez de terminar de uma vez por todas com estas e outras habilidades que não criam valor, mas que criam grandes problemas aos que acreditam num mundo em que as pessoas sabem viver em sociedade.
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