quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

2014

Muito se tem falado ultimamente em ajustamento, que é basicamente o que estivemos a fazer para mostrarmos aos nossos credores que podem acreditar em nós, que vamos cumprir com os nossos compromissos.
Foi por isso que o Estado teve de ajustar as suas receitas e despesas de uma forma brutal, desajeitada, criando receitas e cortando despesas de forma normalmente atabalhoada, mas preparando-se agora para entrar em 2014 de cabeça levantada, com um orçamento em que a receita primária cobre basicamente a despesa obrigatória e os encargos da dívida não andam longe de encaixar no défice negociado para 2014.
Não é uma situação brilhante, pois os cortes realizados foram muitas vezes à cega, originando situações de dificuldade extrema em alguns grupos sociais, e realmente temos uma dívida acumulada gigantesca, disforme, resultado do esbanjamento/desvio de dinheiros públicos para uma política de semear dinheiro, para cursos do FSE mais ou menos virtuais, para obras de regime como o Euro 2004, para uma rede de auto-estradas criminosa, para PPPs feitas sobre o joelho, para negociatas como a do BPN/SLN, obra prima do bloco central de interesses que nos tem governado, que será muito difícil pensarmos em amortizar essa dívida nos tempos mais próximos, pelo que teremos de contrair novos empréstimos à medida que os actuais vencem.
Mas estamos em condições de parar para pensar, como estão a fazer os Irlandeses.
Deixando a discussão da legimidade da nossa dívida total para daqui a mais algum tempo, é altura de acertamos os ajustamentos feitos no sentido de uma maior justiça social, e de apontarmos todas as baterias para o crescimento, e nomeadamente para a educação dos mais jovens. investindo aqui todos os parcos recursos que seja possível libertar.
Só que este primeiro passo, decisivo, exige, quase como condição previa, um governo de gente séria, em que em vez de profissionais de política, tenhamos cidadãos comprometidos, como parece que começa a ser possível vislumbrar.
Saúdamos 2014 como o possível ano da mudança, da esperança, do fim da loucura destes anos em que um grupo de especuladores, com a cumplicidade de governos incompetentes, quase destruíram Portugal e o Mundo ocidental.
Será? Vamos a isso!

domingo, 24 de novembro de 2013

Prova dos nove

Na minha opinião, não há profissão de maior responsabilidade que a de professor do ensino básico ou secundário.
Os jovens crescem e aprendem com os Pais e a família, com a sociedade em que vivem e com os seus professores e colegas, na Escola. Os jovens, todos os jovens, encontram um grande número de professores ao longo dos doze anos de escolaridade obrigatória, que serão, para o bem e para o mal, exemplos de vida que os marcarão durante muitos e muitos anos.
Os professores serão, ou deveriam ser, os mais preparados para ajudar os alunos a aprender, para além das matérias constantes dos currículos obrigatórios, a ser cidadão, a ser capaz de pensar e de ter opinião própria, a perceber como se organiza e cria o trabalho, como funciona a sociedade em geral, como se processa a sua evolução.
Marc Prensky, o homem que propôs o conceito de nativos digitais, dizia há bem pouco tempo no seu Twitter que "os professores não ensinam as matérias, ensinam os alunos"! Inteiramente de acordo. Alunos que convivem com a sociedade global de uma forma que a maior parte dos professores não compreende, e que muitos rejeitam, mas que é a realidade.
Se olharmos para a nossa história recente, reparamos que a nossa Escola, pesem embora os Magalhães, os quadros interactivos, os planos tecnológicos, não foi capaz de acompanhar a evolução social, o que faz com que muitos alunos rejeitem a Escola como espaço de convivência, de alegria, de busca de oportunidades.
As tecnologias, que muitos usam simplesmente para fazer as mesmas coisas do passado de uma forma diferente, e mais complicada, e não para fazer coisas novas, que sem as tecnologias seriam impossíveis, nunca foram vistas de uma forma transversal, e acabaram por remeter os professores de Tecnologias de Informação e Comunicação para um canto.
Michael Gove, Ministro da Educação do Reino Unido, fez em 11 de Janeiro de 2012 um discurso notável, que deveria ser leitura obrigatória para todos os educadores, e que se foca especificamente nesta questão. Como ele diz a determinada altura, "imagine the dramatic change which could be possible in just a few years, once we remove the roadblock of the existing ICT curriculum. Instead of children bored out of their minds being taught how to use Word and Excel by bored teachers, we could have 11 year-olds able to write simple 2D computer animations using an MIT tool called Scratch. By 16, they could have an understanding of formal logic previously covered only in University courses and be writing their own Apps for smartphones".
O currículo de TIC como factor de bloqueio! Pois é! E basta olhar para a história do nosso grupo 550 para percebermos que assim é! TIC deveria tratar de informação, de processamento de informação, de abstracção, de raciocínio abstracto, de despertar nos jovens o gosto por fazer coisas mais difíceis, por ir para além dos limites.
Infelizmente há professores que não estão à altura destes desafios. E daí, uma simples prova de avaliação de conhecimentos e capacidades que é um teste elementar da capacidade de raciocínio de cada um que quer ser professor assusta tanto.
E depois admiramo-nos de 435 000 jovens que nem estudam nem trabalham. É que para trabalhar é preciso trabalho, e para haver trabalho tem de haver empresas competitivas, e para haver empresas competitivas tem de haver jovens que sabem o que querem, e para isso é preciso bons professores...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O pecado original

Acho curioso que ninguém questione a taxa de conversão utilizada quando trocamos os nossos escudos por euros, quando me parece mais ou menos evidente que utilizamos uma taxa de conversão muito errada, e que está na origem de muitos dos problemas que hoje enfrentamos.
A cotação de 200.482 escudos por euro significou por um lado que os rendimentos e as economias de cada um foram transformadas em euros àquela taxa e que os preços foram convertidos em euros à mesma taxa, mas tudo isto com um efeito que, a meu ver, e já aqui o escrevi váras vezes, foi catastrófico, pelo simples facto de o euro ser uma moeda europeia e de os nossos preços em euros terem de competir com os preços em euros dos mesmos produtos noutros países, nomeadamente em Espanha.
Todos nos lembramos como os nossos produtos tradicionais, a carne, o leite, os cereais, ficaram automaticamente fora do mercado, levando-nos a fechar as nossas unidades de produção e a importar dos nossos vizinhos a um preço mais barato!
Se tivessemos adoptado uma taxa de conversão de 250 escudos por euro, por exemplo, tudo funcionaria na mesma, em valores relativos, só que os nossos preços em euros ficariam 20% mais baratos, podendo nós passar a a exportar leite, e outros produtos, em vez de os importar, de Espanha e de França, beneficiando as grandes cadeias de distribuição.
Tuda na mesma, não! Os capitais, os depósitos, também seriam reduzidos de 20%, para desgosto de alguns... e dos nossos vizinhos, também, que deixariam de contar com estes novos ricos que se começaram a endividar para sobreviver, e que assim continuaram.
O chamado ajustamento, no fundo a reposição do valor da nossa moeda antiga, mais de dez anos depois, é agora muito doloroso, e possivelmente inglório, e nunca reproduzirá o crescimento harmonioso que um ponto de partida diferente teria permitido.
Porque não foi assim?
Basta ver quem negociou a adesão e quem beneficiou com os erros cometidos, para o percebermos.


sábado, 12 de outubro de 2013

Um cidadão global

Atrevo-me a dizer que atravessamos um tempo único, a que uns chamam crise, porque pensam ou querem que pensemos que é uma coisa passageira, mas que é efectivamente uma mudança brutal de paradigma, sem regresso.
Mudança de paradigma, de mentalidades, de um mundo centralizado, de cidadãos obedientes, cegamente obedientes, como a História nos mostra, para um mundo de cidadãos informados, uma sociedade informada, em que cada um decide pela sua cabeça, para o bem e para o mal.
E sem regresso, porque quem descobre o prazer de decidir o seu próprio destino não quererá nunca mais regressar ao passado, ao mundo obscuro dos que sabem e dos que obedecem.
Estamos na hora das redes, das redes informais, das dinâmicas sociais, dos fenómenos virais, da formação quase instantânea de opiniões que escapam aos velhos poderes, do falhanço dos modelos económicos baseados na oferta, da emergência de uma infinidade de novas oportunidades para que a maioria ainda não está preparada.
E estamos na hora de mudar o sistema político e a escola, o sistema político porque não se tem mostrado capaz de gerar governos que entendam o que se está a passar e que proponham estratégias que nos permitam preparar-nos para os grandes desafios, e a escola porque será aí, com os jovens, que as grandes transformações se poderão materializar.
Basta olharmos para os países que nos podem servir de exemplo para percebermos o atraso em que nos encontramos, e que é cada vez maior, infelizmente.
Um cidadão hoje tem de ser global, tem de olhar, ouvir, e comunicar com o mundo, tem de dominar línguas, tem de entender as novas formas de viver e de trabalhar, tem de saber usar os recursos infindáveis que a Internet lhe oferece, tem de estar informado, tem de aprender sempre.
Notam-se alguns sinais de mudança, nas novas empresas que florescem um pouco por toda a parte, no dia a dia nas ruas,  nos resultados das eleições autárquicas.
Mas a mudança será lenta, geracional, difícil, com custos, que temos de saber minorar.
Os políticos passam e as pessoas ficam.

sábado, 21 de setembro de 2013

NEET

Tudo tem uma sigla. Tudo o que é mau tem uma sigla.
Nos países da OCDE, fala-se repetidamente dos NEET, das pessoas neither in employment nor in education or training, que nem trabalham nem estão em educação ou formação, e especialmente das pessoas NEET no escalão etário 16-24 anos.
É obrigatório olhar para Education at a Glance 2013 - OECD Indicators.
Não é fácil encontrar estes números para Portugal. Encontrei números globais, e tabelas em que não ficamos muito bem. E encontrei números detalhados para a Inglaterra, por exemplo, que mostram o rigor que o público exige na análise do desempenho do seu sistema educativo.
E descobri também um mapa interactivo interessante no The Guardian.
A nossa indiferença perante estes indicadores revela bem o que se passa com os nossos jovens, que, abandonados à sua sorte, sem confiança nas ajudas da família, da escola, da sociedade, têm dificuldade em tomar as melhores decisões e em fazer as melhores escolhas, e em mais de metade dos casos optam por não ir além do ensino secundário.
Só há uma maneira de resolver este problema, e que consiste em dar aos jovens as ferramentas, a autonomia, a responsabilidade, o pensamento crítico, a criatividade, a exigência que lhes permita fazer escolhas informadas.
Não vale a pena tentar adivinhar as necessidades do País, nunca conduziu a nada, nem criar vagas nos cursos para aproveitar os recursos existentes, pois isso tende a reproduzir o inútil.
Só há um caminho. Por um lado, terminar com o numerus clausus no ensino superior, deixar as escolas oferecer os melhores cursos, promover os politécnicos do interior para que possam fixar os jovens e as populações, e interagir com os nossos vizinhos espanhóis. E por outro criar toda uma nova aposta no ensino secundário, com professores preparados, focados nas competências essenciais, comunicar, escrever, ter identidade, conhecer o território, saber viver em rede e com as redes, ter as ferramentas essenciais para saber escolher e decidir, para que mais jovens se entusiasmem e decidam pelo ensino superior, por animar as universidades e politécnicos, com projectos exigentes e desafiantes.
E está no hora de começar a preparar o próximo ano lectivo!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Chegou a hora de fazer?

Todos sabemos que chegamos a um ponto da nossa caminhada colectiva, em Portugal, no mundo, em que não sabemos nem para onde ir nem como recuar até um ponto anterior, mais ou menos seguro, onde possamos pensar sobre o caminho a seguir.
Era bom podermos fazer esse regresso ao passado, talvez até aos últimos anos do século XX, em que tudo parecia correr bem, em que havia emprego, indústria, esperança...
Efectivamente, já estava tudo mal, já ninguém sabia como conciliar uma nova revolução industrial baseada nas tecnologias da sociedade da informação, na automação e na robótica, no desmantelamento das grandes unidades industriais, e na Internet, na globalização da economia, na desmaterialização, com uma população mal preparada para a mudança, com escolas e professores a tentar resistir a essas mudanças, com governos impreparados, a apostar em velhas ideias para resolver problemas novos.
Mas talvez pudessemos começar pelo princípio, pelos jovens, pelos jovens que irão ser professores dos jovens, e construir uma sociedade mais confiante, mais solidária, mais capaz de apostar no futuro e de criar mod(el)os de vida mais viáveis, baseados na circulação da informação e do conhecimento, assentes nos nossos recursos e na sua valorização.
E dar valor aos mais séniores, àqueles que o sistema atira bruscamente para a reforma, sem pensar por exemplo num modelo gradual de reforma parcial que lhes permita passar os seus saberes aos mais jovens de uma forma institucional e inteligente.
Utopia? Não! Fácil de pôr em prática? Também não. Inevitável? Sim, se queremos que a humanidade sobreviva de uma forma digna, pacífica, ordenada, aos desafios que se avizinham.
Deixo aqui uma ideia, simples de realizar, com poucos recursos, e que consiste em reunir jovens desempregados e séniores reformados em equipas mais ou menos homogéneas a quem é colocado o desafio de se organizarem em empresas viáveis e de as colocar em movimento.
Há tantos espaços, em todas as cidades e vilas, desde centros comerciais abandonados até escolas e tribunais sem uso, que poderiam ser os embriões destas novas empresas.
Para fazer o quê? Mas quem melhor que elas para o determinarem?
E o dinheiro necessário será mínimo.
Alguém quer conversar sobre isto num dos próximos dias?

sábado, 8 de junho de 2013

A espera

E aqui estamos nós, em pleno século XXI, dois anos depois do resgate, à espera! De quê? Ninguém sabe. Provavelmente à espera de alguém que saiba de que estamos à espera!
E cada dia a situação vai-se agravando, empresas fecham, desemprego cresce, dívida aumenta, jovens fogem, tudo se degrada, e não há ideias, não há projectos, não há uma luz, uma esperança, uma certeza, um sinal, que nos anime, que nos diga que estamos no caminho certo.
E cada dia cresce em nós a necessidade de mudar, custe o que custar, de romper com este marasmo, de começar de novo, com outra gente, de mãos limpas, como outras vezes fizemos na nossa História.
Vai acontecer, fatalmente, mais cedo ou mais tarde.
Barabási, no seu livro Bursts, em que estuda os padrões de comportamento humano, retrata a espera como um estado em que a acção desbloqueadora se vai impondo, até atingir um nível de prioridade que a desencadeie, até que se esgote a paciência, diria eu.
Há uns tempos, num dia de muita chuva, fiquei preso num engarrafamento de trânsito, porque numa determinada rotunda o piso tinha aluído. Tudo parou, não apareceu nenhum agente de trânsito, até que, passado uma meia hora, alguém tomou a iniciativa de forçar a circulação nos dois sentidos na parte utilizável da rotunda, e o problema resolveu-se. Como previra Barabási, o mecanismo das prioridades dinâmicas funcionou!
No País, continuamos aparentemente à espera. Mas o tempo passa, e as nossas prioridades vão sendo ajustadas continuamente. Os poderes instituídos devem sabê-lo. Ou não?

sábado, 4 de maio de 2013

Novo resgate para quê?

O problema é que não tratamos de resolver o nosso problema de sempre? Sabermos o que queremos!
E das duas uma, ou queremos ser o que quase sempre fomos, europeus de segunda, do lado de lá de Espanha, ignorantes, incultos, dependentes, sempre à espera de alguém que nos "guie", ou queremos sair deste buraco em que nos enfiamos, valorizar o que temos, e viver de igual para igual num espaço europeu em que todos se respeitam, sem norte e sul, sem este e oeste, sem europeus de primeira e de segunda.
E esta definição é urgente!
No primeiro caso, não precisamos do Euro, é preferível uma moeda própria, e enganarmo-nos com salários que crescem mas que não valem nada, com uma inflação enorme, com taxas de juros insuportáveis, com poder de compra real em queda permanente, como bem nos recordamos.
E confesso que não estou seguro de que não seja esta a opção que em breve nos será "oferecida".
No segundo caso, não é de um resgate que precisamos. Todos sabemos o efeito de um resgate. Se não se tratar de resolver, ou de dar os primeiros passos para resolver, os problemas essenciais, o desemprego, a ignorância, o baixo nível de educação, a atractividade do País para o turismo e para o investimento, a reconstrução de tudo o que foi destruído, das belezas naturais ao património abandonado e às "urbanizações" sem sentido, a legislação anárquica, e tantas outras coisas, não chegaremos a lado nenhum.
Já todos, ou todos menos dois, no mínimo, percebemos que cortar nos salários e aumentar impostos implica cortar no consumo, cortar nas receitas fiscais, aumentar o desemprego, aumentar as despesas sociais, e não resolve o problema do défice, sequer. Portanto, não resolve problema nenhum.
Mas a alternativa precisa de um governo competente e forte, de gente com ideias que mobilizem, de uma visão moderna da sociedade, em que o trabalho é visto de uma forma completamente diferente.
É desta grande mudança de paradigma que precisamos. Já! Porque está na ordem do dia.

sábado, 16 de março de 2013

Onde está a luz no fim do túnel?

Pois é. Parece que paramos, que desistimos, que nos sentamos no chão, de costas, à espera.  De quê? Não sabemos. Nem sabemos. Não pode ser muito pior, não é?
Mas pode, graças aos nossos "governantes", todos, aqueles que "elegemos", sem nos erguermos contra a tirania dos partidos, que escolhem os "eleitos", que partem e repartem tudo o que nos podem retirar, sem contemplações, sem respeito, sem cumprir o dever de governar, de apontar um caminho.
Graças ao fim do Escudo, que servia para repartir os custos da nossa ineficiência de uma forma mais equlibrada, mas que não servia para alguns, os que se apropriam das economias de todos, e para quem só serve uma moeda forte, que não desvalorize.
Graças à forma como os sucessivos governos não olharam de frente para a questão do emprego, da criação de empresas, dos sectores estratégicos, da educação, da cultura, dos valores que podem fazer a diferença.
Como é possível uma Nação com quase mil anos de história se entregar nas mãos desta gente ignorante, e não se revoltar, não se libertar, não escolher outro caminho?
Lembremo-nos ao menos de Gedeão.

sábado, 2 de março de 2013

MoVimento 5 Stelle

Não confundo Beppe Grillo nem com Tiririca nem com José Manuel Coelho.
O MoVimento 5 Stelle teve um grande resultado eleitoral em Itália pela simples razão de 1 em cada 4 eleitores não acreditar nos partidos "tradicionais" nem na capacidade dos seus dirigentes em encontrar uma saída para a crise na Itália e na Europa.
Os Italianos não acreditam no Euro, não acreditam numa Europa guiada pela Alemanha, não acreditam nos burocratas de Bruxelas, querem viver a sua vida como gostam, querem ser senhores dos seus destinos, não se importam de ter uma moeda desvalorizadíssima, de usar notas velhas, de pagar dezenas de milhares de Liras por uma simples refeição, de ter uma taxa de inflação que os assusta sempre que querem trocar as suas Liras por outra moeda, de ter um velho Fiat, porque têm o sol, o mar, a música, a pasta, a Ferrari, a alegria de viver.
Os Italianos querem regressar ao tempo em que eram senhores deles próprios, e estão dispostos a pagar por isso.

From In and around Venezia, August 2006

Gosto desta Itália, do Norte a Sul, sinto-me em casa, seja em Milão seja em Bari, e acredito que todos saberemos defender a liberdade, e que a Europa do sul não se deixará derrotar por esta gente cinzenta que acha que é capaz de governar a Europa, mas que só sabe da teoria económica que vem nos livros que leram.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

E não se muda o sistema eleitoral?

Não consigo perceber o que se passa na cabeça destes seres que se apoderaram das nossas instituições e que nada fazem no sentido de mudar o nosso sistema político, para que possamos passar a escolher os melhores para o desempenho dos cargos de governo.
Será que estão convencidos que conseguem perpetuar o sistema existente, que não perceberam que estão possivelmente perante a última oportunidade para o mudar de uma forma elegante, que a alternativa não será esperar mais tempo mas pura e simplesmente chegar à mudança através da força, exercida de uma forma imprevisível, com consequências desagradáveis para alguns ou muitos?
E não seria tão fácil limpar o governo das figuras lamentáveis que por lá andam, mudar radicalmente a lei eleitoral para que os nossos representantes passem a ser eleitos nominalmente, um por um, sem a protecção de um partido, e deixar o presidente da República convocar eleições para um parlamento novo, em que cada um representa uma parte precisa da população, que se veria toda representada nesse parlamento?
Membros do parlamento capazes de olhar para os nossos problemas mais básicos, dos desempregados, dos reformados, do desnorte do nosso sistema de ensino, e de eleger um governo capaz de adoptar as medidas paradigmáticas capazes de transformar as mentalidades e de criar de imediato uma nova esperança para todos.
E uma justiça em que as pessoas acreditem, que não proteja os fortes.
Não estará tudo aí, ao virar da esquina?!

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Onde está o meu deputado?

My MP, o meu membro do parlamento, tive um nos anos em que vivi em Inglaterra.
O sistema político inglês assenta em três pilares, o Monarca, a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns (o Parlamento).
Na Câmara dos Lordes sentam-se os Lordes Espirituais, e os Lordes Temporais, estes nomeados pelo Monarca, por proposta do primeiro-ministro. No total, os Lordes são actualmente 760. E até 2009 tiveram o poder judicial supremo.
Na Câmara dos Comuns sentam-se 650 membros do parlamento, eleitos individualmente, em 650 actos eleitorais distintos, nas 650 circunscrições eleitorais existentes, para um mandato máximo de 5 anos.
O Monarca convida o líder do partido mais votado a formar Governo, constituído obrigatoriamente por membros da Câmara dos Comuns (embora possa incluir membros da Câmara dos Lordes), isto é, políticos que tiveram obrigatoriamente de ganhar uma eleição nominal, na sua circunscrição eleitoral, e que têm de cuidar dos interesses dessa circunscrição se aspiram a vir a ser reeleitos.
Cabe ao primeiro ministro aconselhar o Monarca a ouvir o povo quando os 5 anos de mandato se aproximam do fim, ou antes, se achar que está a perder o apoio popular. Também pode, quando o parlamento muda de opinião, aconselhar o Monarca a convidar o líder da oposição a formar Governo.
E o parlamento muda muitas vezes de opinião, ou porque deputados mudaram de bancada, ou com as chamadas by-elections, eleições ocasionais de deputados, por falecimento, ou abandono do cargo de alguns. A eleição é sempre de um deputado, que nunca será substituído por alguém não eleito: não há listas!
É este pormenor que divide a Inglaterra de Bruxelas e do resto da Europa, que os Ingleses vêem cheios de gente não eleita a tomar decisões.
E é este sistema de representação que eu reclamo para Portugal.
Quam tem medo desta responsabilização pessoal de cada deputado?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

71:45 são 72 horas!!!

De acordo com o JN de ontem, segundo um "professor na Faculdade de Engenharia do Porto e docente das cadeiras de Estatística e Gestão da Manutenção, os dragões cumpriram a lei, mesmo que a diferença entre um encontro e o outro tenha sido de 71 horas e 45 minutos. "O tempo mede-se e não se conta", começa por dizer, ao JN, para abordar o que está escrito no artigo 13.1 do Regulamento da Taça da Liga: "Quem fez a lei definiu uma precisão à hora e não ao minuto. A partir do momento em que a precisão é a hora, 71 horas e 45 minutos são 72 horas".
Já tinha usado este argumento uma vez, em minha casa, num dia em que cheguei à 20:15 e tentei convencer a minha mulher que tinha chegado às 20, porque ela não tinha especificado os minutos. Mas não resultou. Aliás, ainda tentei usar o argumento do quarto de hora académico, mas também sem êxito. O ponteiro dos minutos não jogou a meu favor.
Mas também não sou professor de estatística. Navego noutras águas mais complexas.
Só mesmo na Liga é que poderá resultar. Já agora, podiam dar aos árbitros uns cronómetros só com o ponteiro das horas?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Educar os nossos jovens

Razões profissionais têm-me levado a conhecer com alguma profundidade o estado do nosso ensino básico e secundário, onde, a par de escolas e professores extraordinários, tenho encontrado situações difíceis, daquelas que me fazem pensar que ainda estamos muito longe de termos todas as escolas ao serviço dos jovens e viradas para o futuro.
O sistema de ensino, ao nível dos mais jovens, assenta na cooperação de três pilares, a escola, a casa e a sociedade, que todos sabemos estão em crise profunda.
A casa é o dormitório, o sítio de todas as dificuldades, da falta de tempo, da falta de dinheiro, da falta de disponibilidade para permitir ao jovem realizar em sossego os trabalhos para casa que lhe foram propostos, sob a supervisão dos pais, naturalmente, e depois brincar, crescer, de forma saudável.
A sociedade, a TV, as notícias, são os heróis de pés de barro, de um dia, capas de todos os jornais e revistas, o elogio dos comportamentos mais desviantes, a inexistência de canais informativos destinados a ajudar os mais interessados, jovens ou adultos, a encontrar os caminhos para uma vida positiva.
A escola fica assim com a missão redobrada de ajudar os nossos jovens a crescer, a descobrir a realidade, a aprender a pensar, a ser capaz de analisar e decidir, antes de executar, em todas as situações.
Este ciclo, analisar - decidir - executar, deve ser treinado em todos os momentos, seja no caso mais simples de um jogo de futebol, seja na resolução do problema mais complexo.
Fico assim muito, muito descontente, quando vejo um professor entregar aos alunos da sua turma uma ficha de trabalho que não é mais do que um conjunto de tarefas elementares, caídas sabe-se lá de onde, e que os alunos devem executar acefalamente, sem terem lido um enunciado rigoroso, sem terem tido uma pequena discussão das alternativas, sem a participação da turma, sem dar aos alunos a oportunidade de ter a alegria de descobrir a solução e aprender.
Esta pouca crença na capacidade dos nossos jovens se interessarem e aprenderem, que deriva mais da incompetência de muitos professores e da sua incapacidade de dialogar com os jovens, de lhes propor desafios interessantes, de discutir soluções, é a doença mais séria do nosso sistema de ensino, aquela que deve ser tratada com toda a urgência, e custe o que custar.
Não há nada, não há emprego, não há interesses, que justifiquem destruir mais uma geração, limitada por professores e gestores que não sabem e que não sabem que não sabem.
Os novos docentes que estão a sair das universidades, com o grau de mestre, com provas dadas nas matérias da área da docência, com uma formação sólida em didáctica, com prática de investigação científica, estão preparados para enfrentar estes novos desafios de um mundo em mudança.
Só é preciso que tenham a sua oportunidade de provar que estão à altura desses desafios.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Ganhar para trabalhar ou trabalhar para ganhar?

O mundo mudou, os paradigmas da sociedade industrial anterior desmoronaram, e muitos ainda não deram conta, sequer, de que o futuro tem de ser completamente reinventado.
A ideia do direito ao trabalho, de que há obrigatoriamente aí, ao virar da esquina, um Estado ou um patrão disposto a pagar, a cada um, um salário para fazer aquilo que sabe fazer, está completamente ultrapassada.
A humanidade, nós próprios, temos trabalhado incessantemente para eliminar as formas de produção dependentes de mão de obra numerosa e pouco diferenciada, apesar de, em muitos casos isso se traduzir numa deslocalização das unidades de produção para outros locais.
Assisti in loco ao fim das indústrias mineiras e siderúrgicas na Inglaterra, ao aumento brutal de desemprego, às greves, e à forma como, em dez anos, novas indústrias, e milhares de novas empresas, permitiram reinventar um novo tecido industrial naquele país.
A criação de empresas e de emprego está agora na ordem do dia, em Portugal. E na realidade, se há área de sucesso nos dias de hoje, são as novas empresas que têm sido criadas recentemente, com o apoio das universidades, dos institutos de investigação, das autarquias, e de muitas outras organizações.
O problema é que são poucas, muito poucas, porque a muitos nos falta o rasgo para avançar, para ir à procura do mercado, para lidar com a incerteza, para sobreviver num mundo mais complexo, mais imprevisível.
Só que a alternativa de ficar em casa não resulta.
E aqui penso, especialmente, nos 40% de desempregados jovens, porque serão eles, certamente, os mais preparados para assegurar o funcionamento das empresas que não existem, as que lhes garantiriam o tal emprego que não têm.
Então o que fazer? Mas uma empresa moderna não é um grupo de gente qualificada e organizada, capaz de entender o mercado, de desenhar produtos, de os produzir, satisfazer os clientes, e de se renovar diariamente? 
Então o que falta? O pontapé de saída, porque apoios não faltariam, tenho a certeza.
Chamo a isso trabalhar para ganhar.